Sibilo

A velha vadia assobiava palavrões de rasgar paredes. O povo todo da comunidade se juntava para ver mais um espetáculo da velha, era a própria Dercy Gonçalves em trajes rasgados de miséria. Aquilo fazia a criançada toda rir. Já os adultos, alguns olhavam com desprezo, outros curiosos gostavam mesmo era do gasto.

O grande problema é que a velha não comia, nem dormia direito. Não tinha colchão na calçada do casebre do falecido Tonho, seu ex-marido. E se isto ainda fosse pouco, os jovens da região, após algumas sessões de cachaça e sinuca no bar do Seu Manoel nas sextas e sábados, atiravam-lhe pedras e ofensas, estas últimas mais dolorosas que as primeiras. Isto somado às imagens de vultos que a velha via e as vozes que lhe diziam: "esse num presta... é como o pai... só qué vivê de gandaia... num tem dinhero nem pru leite dos meninu, mas tem pra cana... pros amigu de buteco". A velha ouvia e fingia que não ouvia, e fedia mais que a caçamba de recolher o lixo que só vinha de 15 em 20 dias. Era cheiro de mijo e tabaco, fumo mesmo, desses de inteiror. Era fedor puro e impregnado.

Certo dia a velha viu uma criança correndo na rua, gritou como a louca que todos conheciam, correu e foi atropelada por uma moto e um caminhão de lixo.

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