Já havia acontecido comigo antes, talvez aconteça um dia na vida de qualquer pessoa, mas desta vez fui tomado pelo ímpeto da coragem. Invés de levantar do assento coletivo e puxar a cordinha, signo do início da famigerada rotina de meus dias, continuei acomodado em meu lugar rente a janela apontada de minha liberdade. De dentro da minha condição de livre, pude pensar nos pescadores tecendo suas redes na praça Dois Leões no iniciozinho da Sá e Albuquerque, antiga rua da Alfandega, quando Jaraguá era o porto do nascimento da cidade de Maceió. Ali, os sobrados que hoje abrigam pontos comerciais diurnos e falidos bares noturnos, instalava-se a primeira zona oficial da cidade. Tinha tanto prostituta para rico, quanto puta pra pobre, estes iam até o chamado "Duque de Caxias", bebiam algo no bar e logo se preparavam para os prazeres carnais. Dos ricos, prefiro nem me aprofundar, sabe-se que os grandes antigos nomes do estado desfrutavam das limpas mulheres cheirosas que o dinheiro lhes proporcionavam.
Voltando do devaneio, percebo que o histório bairro já havia ficada para trás. Alguns pontos após, um senhor de meia idade, tomado pela sobrevivência dos dias, pede vez a senhora em frente a porta de descida, alcança a cordinha e sinaliza mais uma parada ao motorista. De sobressalto, encontro-me descendo pelas escadinhas metálicas do auto-coletivo e sigo caminhando, mirando inconscientemente o senhor que havia saltado antes de mim. Acredito que tentei alcançá-lo, mas fui parado pelo bronzeado das pernas daquelas poucas moças deitadas na areia da praia, em seus biquininhos coloridos e minúsculos, numa luta frenética contra os pudores de um dia normal de meio de semana. Uma água de coco seria muito bem vinda nesta hora.
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escrito num dia qualquer do primeiro trimestre de 2007
sobre o histórico bairro do jaraguá
2 comentários:
Não sei se o texto é seu, mas parabéns, gostei.
=]
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